Manchetes, mangás e balas: o novo perfil das bancas de jornal em São Paulo
Com o preço das revistas nas alturas e a notícia na palma da mão, frequentadores explicam como o antigo 'Google de bairro' sobrevive vendendo mangás, doces e até cola instantânea.
Houve um tempo, não muito distante, em que as bancas de jornal eram o "Google" analógico da vizinhança. Era ali que se sabia das notícias, que se comprava a revista da novela e onde as crianças gastavam a mesada em gibis. Hoje, quem para em frente a uma banca geralmente não está em busca de manchetes, mas de conveniência.
O professor de inglês Marcos Desdério pertence à geração que viveu o auge desse hábito. Ele recorda com detalhes a emoção de colecionar "cartinhas de 50 centavos" e de implorar aos pais pelas revistas que traziam brinquedos de brinde na capa. Mas, ao olhar para as bancas de hoje, o sentimento mudou.
"Banca de jornal hoje em dia virou meio que uma coisa mais nostálgica, né? Antigamente a gente ia muito quando a gente era pequeno... Hoje em dia eu passo só se tô passando pela rua mesmo, aí eu dou uma olhadinha... Só para realmente matar a saudade."
Marcos aponta que a mudança não é apenas cultural ou tecnológica, mas também econômica. Ele explica que o "preço de capa" das publicações aumentou drasticamente, tornando inviável manter o hábito de compra frequente no jornaleiro. Para ele, hoje compensa muito mais garimpar em sebos ou comprar pela internet. O resultado? A banca virou o ponto de socorro para emergências domésticas.
"Hoje em dia nem sabe que isso é uma banca, né? Só às vezes para uma emergência comprar ali, ah, vem isqueiro, ah, vem um Super Bonder."
Para se manterem vivas, as bancas tiveram que se transformar em verdadeiras lojas de conveniência de calçada. A psicóloga Júlia Ferreira é o retrato desse novo consumidor. Ela confessa que nunca teve o hábito de ler o jornal físico, "apenas folheava quando pequena", mas continua sendo cliente fiel por outros motivos.
"Eu venho para comprar itens, né? Balas, essas coisas também. É, meu companheiro consome bastante mangás, então também eu acabo acompanhando bastante."
A influência do companheiro nos mangás e a memória afetiva de ler "Turma da Mônica" na infância mantêm Júlia conectada a esse espaço urbano. Ainda assim, ela admite que há um sentimento agridoce ao ver esses quiosques perdendo espaço ou fechando as portas na cidade.
"Até um pouco triste quando a gente vê que vai diminuindo, né, conforme o tempo vai passando, mas tem o seu peso nostálgico, com certeza."
Entre a nostalgia de quem viu a banca no auge e a praticidade de quem precisa de um doce ou uma cola urgente, as bancas de jornal resistem, tentando encontrar seu lugar em um mundo onde a notícia chega muito antes do papel impresso.
A Central de Notícias da Rádio Jaraguá é uma iniciativa do Projeto “Contos e mitos indígenas brasileiros!”. Este projeto foi realizado com o apoio da 9ª Edição do Programa Municipal de Fomento ao Serviço de Radiodifusão Comunitária Para a Cidade de São Paulo.
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